O município de Viana, na Baixada Maranhense, perde um dos seus grandes expoentes. Faleceu na manhã desta quinta-feira (27) o talentoso músico, maestro e regente Astolfo Amorim, que por décadas tocou em grandes eventos musicais e nas festas dos quatro clubes da cidade: Grêmio, Alvorada, Cinelândia e Jaguarema, além de muitas apresentações na Zona Rural e cidades vizinhas.
A história de Astolfo está eternizada no livro “Resgate histórico da cidade de Viana”, do pesquisador e escritor vianense Áureo Mendonça. (leia abaixo).
ASTOLFO AMORIM UM EXPOENTE DA MÚSICA VIANENSE
Por Áureo Mendonça*
A música sempre esteve presente na história da cidade de Viana que ficou conhecida com a “cidade dos músicos” foi considerada um dos mais importantes polos culturais do Maranhão e possui em suas raízes grandes expoentes da música e da cultura, Viana a cidade dos músicos teve grandes expoentes de maestros e músicos, no Século XX entre eles João Balby, João de Parma, Ladislau Fernandes, Miguel Dias, João Raimundo Coelho, Sólon Nunes, Temístocles Lima, José Piteira, José Campelo, José Quita, Randolfo, Osmar Reis, Astolfo Amorim e tantos outros vianenses que se destacaram nacionalmente.
As bandas de música se transformam em uma das mais populares manifestações da cultura vianense, onde havia coretos existia uma bandinha, orgulho da cidade de Viana e nessas bandas, formaram-se músicos profissionais, eruditos e populares.
Astolfo Costa Amorim, nasceu no povoado Santa Tereza no município de Viana em 05 de setembro de 1935, filho de Ludgero Amorim e Benícia Costa Amorim, tinha dois irmãos sendo um homem e uma mulher, Astolfo se mudou para a sede da cidade em 1949 ainda muito jovem com 14 anos de idade, chegando a sede do município, foi aprender música com Luiz Nunes Lima que seguindo uma tradição da família Lima se tornou músico e compositor era filho do maestro Temístocles Lima. Luiz Lima ministrava aulas particulares de música nas décadas de 1940 e 1950 pelas suas mãos foram formados vários músicos vianenses e nessa época que Astolfo aprendeu música sendo o clarinete o primeiro instrumento que aprendeu a tocar e logo após também aprendeu a tocar saxofone, e com o passar dos tempos também aprendeu a tocar quase todos os instrumentos com a necessidade de poder ensinar música pois sempre incentivou o ensino e a prática da música instrumental aos jovens vianenses.
Astolfo iniciou sua carreira na “Banda São Benedito” de Ozias Mendonça tocava sax e também clarinete, Astolfo considerava Ozias Mendonça como um pai. Nessa época predominava as bandas de música nos coretos da cidade de Viana que ficavam localizados na antiga Praça 08 de julho, conhecida como praça da prefeitura também existia coretos na Praça da Matriz, na Praça da Barreirinha, Praça de São Benedito e no largo da igreja de São Sebastião, com bandas de música que tocavam fandangos, dobrados, marchas, frevos e quadrilhas, também tocavam em festas religiosas, profanas, cívicas e carnavalescas. Astolfo um músico muito talentoso e dedicado fez parte de várias bandas na cidade de Viana, animando festas na sede, nos povoados de Viana e nessa epóca se deslocavam a pé para os povoados da zona rural e da zona dos campos, e em cidades vizinhas como Penalva, Monção, Cajari, Vitória do Mearim, Arari, Santa Inês, Pindaré, Itapecuru Mirim.
Nesse período a cidade de Viana produzia um grande contingente de profissionais da música que iam para São Luís e outras cidades. Maestros conceituados na cidade de Viana formavam vários jovens músicos talentosos que mais tarde participaram das bandas das policias militares e do Exercito Brasileiro em diversas cidades do país.
Durante a gestão do prefeito Luís de Almeida Couto no período de 01/02/1951 a 31/01/1956, Astolfo tocou em todas as inaugurações dessa época inclusive na inauguração do Aeroporto (Campo de Aviação), onde hoje é a Avenida Luís Couto, tocou também na inauguração da reforma da praça da prefeitura que ganhou um novo visual em 1955 nessa época chamava-se Praça 08 de julho e também na festa da Barreirinha bairro de reduto eleitoral do prefeito Luís Couto.
Viana era considerada na época uma das cidades mais católicas do Maranhão, existiam várias festas religiosas na cidade, Astolfo um músico brilhante que tocava dobrados e cânticos religiosos nas principais festas religiosas de Viana e nas festas de novenas, tocou em vários festejos cívicos, religiosos e profanos, incluindo as festas de largo muito comum na época e as festas tradicionais incluindo o carnaval e outros momentos festivos. A festa de Nazaré era realizada no mês de novembro no largo da pequena igreja entre o Igarapé do Engenho e a fazenda Céu Azul, Festa de São Benedito da Barreirinha no mês de setembro, tocou também no tradicional Festejo de Nossa Senhora da Conceição realizada no mês dezembro onde no ultimo dia devotos de Nossa Senhora da Conceição, padroeira do município de Viana se faziam presentes na Procissão de nossa Senhora da Conceição pelas ruas estreitas de Viana e nessa festa existia o largo em frente a igreja da Matriz com a banda animando os festejos, outra festa que também tocou era a festa de São Sebastião no mês de janeiro, no largo da igreja, nessa época a cidade despertava com a alvorada e a banda de música, tocando marchas e hinos, a banda se deslocava da casa de Gegê até o coreto próximo à igreja de São Sebastião.
Essas festas religiosas tinham novenas a noite precedidas de animados largos ao som das bandas de músicas, durante as procissões e durante os enterros de pessoas importantes da cidade as bandas tocavam hinos sacros, dobrados e marchas fúnebres. Astolfo também tocou nos Festejos de São Judas Tadeu que eram realizados no mês de outubro numa pequena capela no bairro do Moquiço, nesse festejo existia as retretas musicais que eram organizadas pelos grandes músicos vianenses Raimundo do Nascimento Veloso conhecido em Viana como “Sinhô Dico” e João Batista Penha, conhecido como João Penha. Muitas dessas festas religiosas eram a convite do Padre Heitor Piedade, Padre Wilson Cordeiro, Padre Ribinha da cidade de Monção e por último o Bispo Dom Adalberto.
Astolfo Amorim é um colecionador de partituras e possui sob a sua guarda um riquíssimo acervo de partituras, todos os anos os filhos de Ozias Mendonça, componentes da orquestra Jazz Vianense na capital lhe enviavam várias partituras.
Astolfo foi casado com a Sra. Maria do Espírito Santo Cutrim Amorim, e depois ficou viúvo, o casal teve dez filhos e atualmente cinco estão vivos. Durante a sua trajetória na música Astolfo adquiriu inúmeros amigos que até perdeu a conta e citamos alguns como Ozias Mendonça, José de Ribamar Costa (Zé Piteira) Raimundo do Nascimento Veloso (Sinhô Dico), João Batista Franco (Joca de Lili), Benedito Salgado (Benedito Carteiro), João José Lobato Costa (João Lobato), Tarcísio Neves Gaspar (Tarcísio de Coaraci), José Antônio Pereira Pinheiro (Zé Antônio de Nhambá), Antônio Tarcísio Santos (Antônio Piteira), José Fugido entre tantos outros.
Astolfo Costa Amorim e alguns companheiros tentam passar, às novas gerações, a familiaridade com as notas musicais que fizeram deles e de tantos outros excelentes profissionais.
No ano de 1968, Ozias Mendonça vendeu a histórica banda “São Benedito” uma parte para o prefeito da cidade de Monção, Senhor Antonilson Coelho Costa, a outra parte da banda foi vendida em Viana para os músicos Astolfo Costa Amorim e Raimundo do Nascimento Veloso conhecido em Viana como Sinhô Dico que Astolfo considerava como seu irmão, instrumentos estes como a Tuba, bombardino, piston, trombone, sax, clarinete e bateria, esses citados instrumentos da extinta banda “São Benedito” passaram a fazer parte da orquestra “Jazz São Judas Tadeu” nome provisório da orquestra desses dois grandes músicos vianenses que depois passou a ser chamada novamente “Banda São Benedito”, atualmente esses instrumentos encontram-se na cidade de Viana com o musico Astolfo Amorim, saxofonista e clarinetista, é o único musico vianense vivo com 86 anos de idade que possui diploma em regência musical e que lê partituras e dobrados e também possui uma coleção de partituras. Segundo nos informou Astolfo a parte que coube a ele Ozias Mendonça que o Astolfo considerava como um pai vendeu a prazo e foi pago a proporção que tocava ia arrecadando o dinheiro e pagando os instrumentos.
Uma volta ao passado, nessa época Viana possuía um dos melhores carnavais do interior a nostalgia do animado carnaval em Viana, na década de 1970, até a década de 1980 onde se via o glamour dos bailes nos clubes sociais, A orquestra de Astolfo Amorim animou os carnavais vianenses tocou nos quatro clubes sociais de Viana durante o período de carnaval, Grêmio, Jaguarema, Alvorada e Cinelândia, os bailes começavam às 21 horas e iam até às duas horas da madrugada, nessa época somente adultos frequentavam os bailes, as crianças e adolescentes brincavam o carnaval nos matinais e vesperais.
Presto essa merecida homenagem ao grande profissional o músico vianense Astolfo Costa Amorim, que fez a alegria da minha e de várias gerações de vianenses em diversas décadas, maestro, regente musical, clarinetista e saxofonista, esse expoente da música vianense que até a presente data estava no anonimato pois vários artigos, contos e crônicas publicados sobre a música vianense quase nada cita esse espetacular músico, Astolfo dignificou e acima de tudo valorizou a música vianense, além de ser uma referência viva e muitos vianenses não sabem que o colecionador de partituras possui sob a sua guarda um riquíssimo acervo de partituras com dobrados, valsas, músicas carnavalescas e guarda um outro tesouro que são alguns dos instrumentos oriundos da Banda “São Benedito” que durante 32 anos pertenceu a Ozias Mendonça.
*Áureo Mendonça é pesquisador e escritor. Texto escrito em maio de 2022.
Texto integrante do livro “Resgate histórico da cidade de Viana”. Lançado em novembro de 2022 com edição esgotada.