A nova edição do Relatório sobre o Futuro dos Trabalhos (The Future of Jobs Report 2023), divulgado neste mês pelo Fórum Econômico Mundial (FOM), mostra que muitos estão cada vez mais sem futuro. Graças às novas tecnologias – e, sobretudo, à inteligência artificial –, a transição no mundo do trabalho é mais acelerada do que o previsto.
Outros fatores, como a ampliação do acesso à internet e a desaceleração do crescimento da economia global, também ditam o ritmo das mudanças. A isso se soma o tão esperado recrudescimento da pandemia de Covid-19. Não é de estranhar que, logo após a apresentação do relatório do FOM, a OMS (Organização Mundial da Saúde) anunciou o fim da emergência de saúde pública global relacionada ao novo coronavírus.
Com base na realidade 45 países, o Fórum Econômico Mundial recorre à palavra da moda – “disrupção” – para traduzir, sinteticamente, o sentido de tamanhas transformações. A imensa popularidade do ChatGPT, lançado no final de 2022, já sinalizava que os impactos da inteligência artificial estavam na ordem do dia.
Uma das áreas mais afetadas é o atendimento presencial ao cliente em qualquer tipo de serviço, como agências bancárias, postos dos Correios, supermercado e lojas. É o tipo de serviço que, conforme o Fórum Econômico Mundial, começa a cair em desuso. A demanda para caixas de bancos, funcionários relacionados e atendentes de serviços postais cairá 40% em cinco anos, diz o Relatório. Para operadores de caixa de supermercado e outros tipos de varejo, a queda será de 37%.
Neste prazo de cinco anos, duas outras áreas terão declínio considerável: trabalhos como os de digitadores de dados (36%) e secretário executivo e administrativo (34%). A crer nos cálculos da OIT (Organização Internacional do Trabalho), todas essas profissões “em risco” representam nada menos que 673 milhões de trabalhadores em todo o mundo.
O Fórum Econômico Mundial estima que, até 2027, 23% dos postos de trabalho atuais se modifiquem – parcial ou totalmente. “Muitos deles vão ser substituídos por soluções, por algoritmos que automatizam essas funções, ou por autosserviço”, diz o professor Carlos Arruda, da Fundação Dom Cabral, parceira da pesquisa. “É o caso do caixa do supermercado ou caixa do banco – que vai ser substituído por uma máquina e que vai atender bem, atender às necessidades do cliente.”
Estima-se que, no Brasil, surjam 13 milhões de novas vagas e se percam 16 milhões de pequenos e médios agricultores. Isso quer dizer que viveremos uma era de desemprego em massa na escala global? Nada disso.
Conforme o Relatório sobre o Futuro dos Trabalhos, só a transição energética será capaz de gerar 30 milhões de trabalhos até 2030 no mundo – “em energia limpa, eficiência energética e tecnologias de baixa emissão”. A transição resulta em novas demandas e força outras mudanças. O Relatório aponta que 23% dos empregos devem se modificar até 2027.
No livro A Quarta Revolução Industrial, de 2016, Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial, já dizia que a nova era no mundo do trabalho estava em curso. “Começou na virada deste século e teve como fundamento a revolução digital. É caracterizada por uma Internet muito mais móvel e global, por sensores menores e mais poderosos e por inteligência artificial e machine learning”, escreveu Schwab.
Este “admirável mundo novo” já é realidade. Diz o autor, ”de fato, trabalhadores que atuam com inteligência artificial, aprendizagem de máquina, big data e segurança da informação serão mais demandados, assim como aqueles que trabalham com energia renovável, como a solar”.
Além disso, há uma lista grande de funções que devem surgir ou ganhar força nos próximos anos, estimulado a geração de empregos: especialistas em inteligência artificial, aprendizagem de máquina ou sustentabilidade; analistas em Inteligência de Negócios e Segurança da Informação; cientistas e analistas de dados; especialistas em Big Data e transformação digital, etc.