A tradição centenária vianense tem um novo capítulo nesta quarta-feira, 28, quando os algozes munidos de carretilhas e busca-pés vão enfrentar o novilho que antes era comandado pelo folclorista Zé de Betrone, e agora pelo filho Júnior Oliveira.
O embate começa à meia noite, na Rua Grande, em Viana, tudo às escuras, e as luzes serão apenas os clarões das carretilhas, que funcionam como espadas de fogo que cortam o ar, perseguem quem corre e fazem um barulho ensurdecedor, apontadas para o boi que tenta resistir ao duelo do calor e fumaça.
Dezenass de visitantes e turistas já se encontram em Viana, assim como emissoras de TV, jornalistas e fotógrafos, que vão documentar esse espetáculo único no Brasil, que coloca a Cidade dos Lagos na rota do turismo, gera renda e fortalece uma cultura que precisa ser preservada.
Tradição centenária
Não se tem registro oficial da data exata do início da brincadeira, mas estima-se que ocorra há pelo menos 150 anos. O médico vianense Salvio Mendonça, nascido em 1892, relata em seu livro autobiográfico que, quando adolescente (1906 a 1911), participava da farra que já era tradicional em Viana por esse tempo.
Segundo a memória oral, a brincadeira teve origem na tentativa de alguns moradores da Rua da Ponta de roubar um boi do pessoal do Moquiço, que se apresentava na Praça da Matriz. Como naquele tempo, no mês de junho, parte das ruas Castro Maia e Coronel Campelo ainda ficava intrafegável pelo transbordamento do lago, restava a Rua Grande como passagem obrigatória do boi no retorno a seu bairro de origem.
Dessa maneira, munida de forte arsenal de bombas, buscapés e carretilhas, a turma da Ponta postou-se no famoso Canto Grande (cruzamento das ruas Grande e Cônego Hemetério) à espera da passagem do cortejo.
O plano era pegar o grupo de surpresa e afugentar os brincantes com o ataque repentino dos fogos, para assim se apoderarem do boi. O assalto, porém, foi frustado pela valentia dos vaqueiros do Moquiço que souberam resistir ao fogo cruzado e não abandonaram o boi, conforme o esperado. No final, todos gostaram da explosão dos fogos que passou a ser repetida nos anos posteriores não mais como tentativa de tomar o boi, mas sim de entreter e divertir a população.
A brincadeira pegou de tal modo que em tempos passados, para bem pagar sua promessa, todo boi tinha que enfrentar a cortina de fogo, a fim de provar a coragem e resistência de seus vaqueiros. (Com informações do jornal O Renascer Vianense (AVL), edição 33, agosto de 2011).