Nonato Reis*
A transição da infância para a adolescência é o período das transformações: física, emocional e, principalmente, sexual. É quando o homem e a mulher rompem a fronteira da neutralidade e se assumem como tais.
Alfredinho até então se via como criança, a esmo tentando compreender o mundo dos grandes. Inocente, ainda acreditava no conto da Carochinha, que dizia que o bebê chegava trazido no bico da Cegonha.
Mas Alfredinho era curioso. Gostava de fuçar as coisas. E de tanto investigar, um primo mais velho esfregou a verdade na cara dele, da forma mais rude possível: “Estão te enganando. A criança nasce de uma ou de várias trepadas!”.
Aquilo jogou por terra a visão que ele tinha da vida e o fez ingressar em um novo ciclo. O mesmo primo que lhe escancarou o universo dos adultos e o fez adentrar o mundo mágico do sexo. Primeiro, ensinando-o a prática da masturbação. “É assim…” e as aulas se foram sucedendo até se sentir mestre no ofício. Treinado e viciado, organizava torneio de masturbação entre os colegas de ócio, para ver quem conseguia atingir o clímax mais vezes. Eram tantas as repetições que, já à beira da exaustão, ao invés de expelir sêmen, brotavam gotas de sangue.
Do exercício com as mãos para a iniciação com o sexo oposto foi um pulo. Só que, desajeitado, nunca chegava ao fim de uma relação. Não conseguia transpor a zona do pecado, talvez porque esse também não fosse o objetivo das parceiras que, ainda virgem, queriam apenas se divertir, lateralmente, numa espécie de masturbação a dois.
A puberdade tem essa primazia de despertar o conhecimento do corpo. E as coisas acontecem numa intensidade e rapidez de tal modo agudo que é quase impossível controlar seus impulsos. De repente, a qualquer hora, Alfredinho era tomado de uma força descomunal que parecia provir das entranhas da alma. Havia uma prima que não podia ver. Ao menor sinal da sua presença sentia arrepios. O corpo parecia arder, como se queimasse de febre.
Por conta desse descontrole emocional, teve que enfrentar algumas situações constrangedoras. Uma delas foi ser flagrado pela mãe Almerinda em pleno ato com as mãos. Ela arregalou os olhos como se aquilo fosse algo sobrenatural. “Que isso!”. Então pegou um cabo de vassoura e só não o acertou as fuças porque eu foi mais rápido e fugiu em disparada. Depois comentou com o marido: “esse menino anda fazendo coisas estranhas, temos que ficar de olhos abertos; não quero mais minhas filhas sozinhas com ele”. Aquilo o feriu na alma. Jamais seria capaz de chegar a tanto, até porque as irmãs constituíam um terreno neutro ou sagrado.
Logo depois mudou-se para São Luís, onde passou a morar com os avós, cuja parede lateral da casa era conjugada com a do vizinho e formava uma baliza comum entre os dois imóveis. Do lado do vizinho, havia um chuveiro no muro, utilizado para banhos. A dona da casa tinha uma filha que se chamava Rosa, entre 11 e 12 anos. As duas costumavam tomar banho juntas. E ouvia a mãe dizer à filha: “passa a mão na perereca e joga água!”.
Aquilo foi como despertar o demônio que havia nele. Então deitou-se no chão, rente à parede, onde havia um buraco, provavelmente aberto por rato, que dava acesso ao outro lado. No exato momento que tentava bisbilhotar o que não devia, a mulher, percebendo algo estranho, encheu um caneco de água e atirou naquela direção, atingindo-o em cheio nos olhos.
A água misturada à lama provocou uma terrível irritação e ele amanheceu no dia seguinte com a cara toda inchada, os olhos vermelhos feitos pimentões. Vendo-o daquele jeito, a vizinha quis saber o que havia acontecido com ele. “Acho que foi espuma de sabão”, desconversou. E ela, os olhos faiscando: “não teria sido perereca?”.
*Jornalista | Escritor