Benito Filho, os bons morrem antes

Nonato Reis*

Conheci Benito Filho ainda menino. Eu era um pouco mais velho que ele e, embora morássemos em lugares diferentes (ele na sede, e eu no Ibacazinho, a 4 quilômetros), era presença constante na sua casa, por força dos hábitos do meu pai, que, toda semana, recorria à mercearia do seu Benito (pai), para abastecer nossa casa de gêneros de primeira necessidade.

Em 1988 Carrinho Cidreira, meu primo, decidiu entrar para a política partidária, concorrendo à Câmara Municipal, junto com Benito Filho. Eleitos vereadores, Carrinho e Benito marcariam aquela legislatura com uma atuação independente, que priorizava o interesse público e as demandas dos segmentos mais necessitados.

Foi a partir de então que eu e Benito nos aproximamos um do outro e passamos a ter uma convivência fraterna, fortalecida pela visão de vida em comum. Em 1989, então chefe de redação do Jornal de Hoje, decidi fundar um jornal em Viana, sem qualquer ligação com política partidária – um veículo que representasse a voz dos oprimidos e cobrasse dos poderes constituídos o atendimento de seus direitos.

Nascia assim o CIDADE DE VIANA, que teve a adesão de primeira hora  de Benito e Carrinho, e um pouco adiante receberia também o apoio irrestrito do Padre Eider, figura lendária da cidade.

O incentivo de Benito vinha de todas as formas. Seja repercutindo na tribuna as matérias publicadas no jornal, seja ajudando a vender seus exemplares, ou mesmo oferecendo apoio logístico.  Não raro hospedou na casa dos seus pais as equipes do jornal, em serviço. Também acompanhava repórteres e fotógrafos no cumprimento das pautas, além de sugerir fontes para serem entrevistadas.

O tempo passou e a nossa relação, que era de amizade, assumiu ares de irmandade.

Em 2017 fiz minha estreia na literatura, lançando o romance Lipe e Juliana, no auditório da Livraria AMEI. Dias depois ele mandaria uma mensagem de felicitação, com a proposta de fazer uma campanha de divulgação do livro no Sistema Maracu, com o sorteio de exemplares da obra e entrevistas com o autor.

Um ano depois publiquei o segundo romance: A Saga de Amaralinda, ambientado no rio Maracu. No dia seguinte ao lançamento, Expedito Moraes entrou em contato comigo, para que fôssemos ao encontro de Benito, na casa dele. Ao chegar ele já foi me perguntando: “Por que você não lança esse teu livro em Viana?” Eu respondi que me faltava apoio logístico. Ao que ele anunciou: “Pois agora você tem! Eu e o Expedito vamos cuidar de tudo. Você só precisa comparecer para a apresentação”.

E foi assim, graças a ele e ao Expedito, que um dos livros mais identificados com os valores da Baixada foi lançado para os vianenses na Biblioteca Municipal da cidade.

Benito era um cara de bem com a vida. Nossas trocas de mensagens tinham o selo do senso de humor e da camaradagem. Sempre que solicitava espaço na Rádio Maracu, para divulgar minhas obras, ele respondia invariavelmente: “Você não precisa me pedir nada. Vá lá e fale. A Rádio é sua”. E no arremate, a gozação típica: “Você manda nesta chibata”.

No dia 26 de agosto último, ele me mandou mensagem para atualizar nossas conversas. Disse que viajara ao Pará com “Dr. Gaspar”, Nonato Aroucha e Ezequiel Gomes. “Levei a turma no Marajó (…). Eles criam búfalos e foram ver como são importantes lá, e podem ser por aqui também (…) Leite, doces, queijo, turismo (…) Eu não crio nem galinhas”.

No começo de novembro eu lhe mandei uma fotografia de Marselha, no Sul da França, onde fazia uma excursão. Ele comentou: “Aproveite. Já estive nesse caminho. Muito bonito (…) Estive há dois anos em Israel e Palestina. Muito bom na época”.

Foi o nosso último contato. Estranhei o fato de ele ter deixado em aberto o meu comentário final dessa conversa: “Você é outro departamento… Viajado e escovado kk”.

Ficar sem a presença luminosa de Benito, o seu senso de humor inabalável… assim tão de repente, abrupto … é algo que nos impõe o silêncio. Difícil não lembrar Renato Russo e a sua belíssima Love In The Afternoon:

“(…) Eu continuo aqui /Meu trabalho e meus amigos /E me lembro de você / Dias assim / Dia de chuva /Dia de Sol/ E o que sinto não sei dizer”

*Jornalista | Escritor

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O Editor

Graduado em Jornalismo, Luiz Antonio Morais é pós-graduado em Design Gráfico e Publicitário. Mantém o blog desde 2008, um dos mais antigos do Estado.

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