O problema é a comunicação sim

A chamada “grande imprensa”, expressão quase obsoleta, insiste em afirmar que o problema do governo Lula não é a comunicação. A mesma Folha de São Paulo, que estampou ontem (9) editorial com o título acima (“O problema do governo Lula não é a comunicação”) trouxe, em 22 de dezembro do ano passado, uma matéria assinada pelos jornalistas Mariana Holanda e Renato Machado, explorando o fato que o presidente havia chegado à metade de seu terceiro mandato “sem marca clara de governo”. A análise é correta: marca é um conceito diretamente vinculado à área de comunicação que tem, entre outros objetivos, a função de estabelecer conexão emocional com o público-alvo. A reportagem cita em off, aliados e ministros de Lula, admitindo que ainda não há uma política pública que tenha se tornado a cara do governo.

Na Globo News, Natuza Nery acertou ao afirmar que “o mordomo das crises sempre é a comunicação”. Além da gestão de crises que, de ação eventual, se tornou atividade corriqueira na era dos escândalos midiatizados e alastrados com a instantaneidade digital, a comunicação é a grande mediadora nos ambientes públicos ou privados. O já anunciado novo ministro da Secretaria de Comunicação do Governo Lula, Sidônio Palmeira, já se pronunciou com precisão ao citar o “desafio de alinhar expectativa, gestão e percepção popular” e – o óbvio necessário – “melhorar a comunicação digital do governo”. E cravou a concepção fundamental de que comunicação é, de fato, mediação.

“Mas a comunicação não é somente aqui na Secom. Comunicação é no governo, no governo como um todo. Porque a política tem a gestão e tem a comunicação. Estes três entes são interligados, são transversais e é importante que isso aconteça”, disse.

Governos e prefeituras costumam operar com “ilhas” que não de comunicam entre si, órgãos, secretarias, autarquias, departamentos, isolados, sem um fio condutor que conecte cada ação, obra e projeto a uma marca de administração. A tiktorização da Comunicação e o personalismo das autoridades nas redes sociais, em gracejos que geram curtidas, mas não melhoram a percepção popular citada por Sidônio, são a modinha da vez por estas bandas daqui. Falta consistência, gestão de dados e, sobretudo, conceito. Nós, profissionais da Comunicação Política temos sido convocados às vésperas das eleições para atuar na Comunicação Eleitoral, como bombeiros já dentro de um incêndio, de forma retroativa, muitas vezes.

Lula está no terceiro mandato, possui uma longa trajetória política e sabe que o lulismo hoje se sobrepõe ao petismo justamente porque a comunicação da direita avançou sobremaneira no ambiente digital e manipulou com habilidade perversa as fábricas de fake news e a Máquina do Ódio, título de um dos melhores livros sobre o assunto, escrito pela premiada jornalista Patrícia Campos Mello. A globalização trouxe impactos irreversíveis em todas as áreas de atuação profissional, porém, na comunicação, os efeitos foram além da hiperconexão global.

É elementar compreender que todo eleitor vota em uma ideia, uma percepção ou uma interpretação daquilo que se apresenta como solução para os problemas. Conforme atesta o célebre teórico espanhol, Manuel Castells: “a luta pelo poder é a batalha pela construção de significados na mente das pessoas”. E quem, afinal, constrói significados, senão a comunicação?

Fonte: Blog o Buliçoso

Texto: Flávia Regina Melo

Foto: Adriano Machado (Agência Reuters)

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O Editor

Graduado em Jornalismo, Luiz Antonio Morais é pós-graduado em Design Gráfico e Publicitário. Mantém o blog desde 2008, um dos mais antigos do Estado.

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