Por Luiz Antonio Morais*
Um dia desses (sem cronologias, Luiz), a convite do meu amigo Zé Raimundo Soeiro, adentrei a sala, a varanda, passei pela cozinha e fui até o quintal da Dona Socorro Soeiro, hábitos muitas vezes repetidos na infância, para brincar com o meu amigo Manoelzinho Soeiro, o Coroca.
Dona Socorro, gentil e sorridente como sempre, ofereceu-me um enorme caju, fruto do enorme e centenário cajueiro do seu quintal, ali, naquele descer da Praça da Matriz, pertinho da igreja, onde sempre residiu.
– Ué, ele ainda está vivo, Dona Socorro? Perguntei incrédulo!
– Está sim, disse ela orgulhosa!
Hoje, revendo momentos alegres dos seus 90 anos, junto aos seus filhos, netos, trinetos e amigos, também relembrei de tantos momentos que tive, e continuo tendo ao lado dessa numerosa e amiga família vianense.
Sempre achei maravilhosa essa convivência das famílias do interior, cujos casais da velha guarda, que não se cumprimentam pelos nomes, e sim por amigáveis “cumade” e “cumpade”. E foi assim que o casal Soeiro, Dona Socorro e o Seu Manoel Soeiro, “cumade” e “cumpade” dos meus pais, me receberem na sua residência, quando a minha mãe percebeu que eu precisava aprender o ABC. Sim, fui aluno da Dona Socorro, como muito orgulho. Levei muitos beliscões da sua filha caçula, Ana Cristina, talvez pelo ciúme juvenil por eu estar invadindo o seu lar e tendo atenção da sua mãe. Normal!
E, quando “engrossei o couro”, aos 12 anos, adivinhem onde eu fui aprender uma profissão? Sim, na oficina do Seu Manoel Soeiro, um carpinteiro visionário, querido e respeitado em toda Viana, e que hoje, merecidamente, dá nome a uma escola municipal.
Ainda sobre Dona Socorro, também fui aluno das suas duas filhas professoras: Carmem e Socorrinho. Não sei se fui um bom aluno, mas, com certeza, tive excelestes mestras.
Católica fervorosa, devota de Nossa Senhora da Conceição e colaboradora da Paróquia, é impossível esquecermos o carinho e a abnegação da Dona Socorro pela nossa cultura popular, principalmente o Bumba-Meu-Boi, com as suas rezas para São João, os banquetes de carne de porco que ela preparava quando era convidada a chefiar a cozinha de uma boiada, seja na sede ou na zona rural; das farofas de carne e ovo que ela carinhosamente preparava para os jovens Coroca, Nego Pará (falecido) e eu, quando atravessávamos o lago, de canoa, para abastecer potes e latas com a água limpa e cristalina do famoso “Poço do Ciloura”.
Neste mês, esta bondosa matriarca está completando 90 anos. Mas, parece que o tempo não passou para ela. Continua lúcida, reconhece e cumprimenta a todos do seu círculo familiar e de amizades na Praça da Matriz.
Uma merecida benção para uma mãezona, que sempre me tratou como se fosse um dos seus oito filhos: Maria José, Socorrinho, Zé Raimundo, Carmem, Regina, Coroca, Crispiana e Cristina.
Que Deus lhe abençoe, com muita saúde, felicidades e vida longa!
*Jornalista, Publicitário e Membro Efetivo da Academia Vianense Letras – AVL.