Quinta de Stanislau: a história de Viana entre árvores e insetos

Localizar o marco zero da colonização de Viana exige uma boa dose de aventura por área salpicada de árvores seculares e ervas daninhas, enfrentando insetos, cobras e outros bichos próprios do mato, apesar de estar apenas algumas braças do rio Maracu, que se estende como um divisor entre o Ibacazinho e a antiga quinta de Stanislau Muniz. As duas localidades concentram as origens de Viana.

Por Nonato Reis*

Fontes históricas assinalam que no ano de 1683 os jesuítas da Ordem de Inácio de Loyola desembarcaram às margens do rio Maracu e ali fundaram o que veio a ser o maior projeto agrícola da região.

Chegaram no lugar movidos por dois objetivos, um mercantil, que constituía as suas reais intenções em solo do Grão-Pará, e outro religioso – converter gentios ao catolicismo -, que soava mais como cortina, para tirar o foco de suas ambições na Colônia.

Os jesuítas já tinham ouvido falar da provável existência de minas de ouro na bacia do rio Turiaçu. Como exímios mercadores, excursionaram pelo Golfão Maranhense, em busca do tesouro prometido. Mas, por razões não esclarecidas, ao invés de pegarem o rio Gurupi, navegaram pelo Pindaré, até alcançarem um de seus braços, o rio Maracu.

Em meio a tribos de índios, não encontraram ouro no Maracu, mas, fascinados pelo relevo planificado, decidiram investir na produção de gado de corte. Assim fora implantada a Fazenda São Bonifácio do Maracu, considerada o marco inicial da colonização de Viana.

oço aberto pelos jesuítas nas terras da Fazenda São Bonifácio, no século XVII. Ibacazinho/Viana.

A casa grande da fazenda foi erguida no lugar onde, séculos depois, Stanislaw se instalaria, batizando a propriedade com o nome de Quinta do Maracu. Antes disso o local pertencera a Marcelino Trancoso, um enfermeiro sem diploma, que salvou muita gente da morte prematura, com a manipulação de ervas medicinais.

Do outro lado do rio, na parte onde depois se formaria o Ibacazinho, os padres jesuítas ergueram uma igreja e construíram dois cemitérios – o Dos Tamarindeiros e o Dos Anjos. O primeiro recebia os restos mortais dos adultos, e o segundo, das crianças.

A Fazenda São Bonifácio, em sua fase áurea, chegou a dispor de 15 mil cabeças de gado e quatro engenhos, para o beneficiamento da cana de açúcar. O empreendimento também produzia rapadura, mel de abelha, farinha de mandioca, arroz e legumes. Todo o excedente era exportado para São Luís e também Lisboa.

Com a expulsão dos padres, em 1759, pelo Marquês de Pombal, o espólio dos jesuítas foi confiscado pela Coroa, que nomeou como gestor um parente de Pombal, José Feliciano Botelho de Mendonça, elevado ao cargo de capitão-mor das terras do Ibacazinho.

Sem o braço forte dos jesuítas, o projeto da Missão de Conceição do Maracu entrou em declínio, até se extinguir inteiramente. Séculos depois, sem a devida preservação, restaram apenas vestígios do que outrora fora um grande marco colonialista.

Ainda é possivel encontrar, em meio ao matagal, pedras, cerâmicas, artefatos e até moedas. Nas terras antes pertencentes a Stanislau, hoje propriedade de um de seus netos, Murilo Muniz, ainda existem vários poços abertos no periodo catequético. Um deles, ilustrado neste texto, foi localizado por mim e os primos Pedro Castro e Newton Muniz, na última quinta-feira, em meio ao matagal.

Segundo Murilo, existem seis poços da época da catequese, ao longo das terras do seu avô, hoje reduzidas a algumas centenas de braças. Parte delas foi vendida ou rateada entre os herdeiros.

MARCOS HISTÓRICOS

A Prefeitura de Viana pretende identificar, com placas informativas, os marcos da catequese. É uma forma de preservar a origem do lugar e bem orientar os visitantes. Afinal, Viana é feita de história, figurando entre as quatro cidades mais antigas do Maranhão.

O prefeito Carlos Augusto Cidreira, Carrinho, mandou construir, no Ibacazinho, uma avenida marginal, que vai da ponte sobre o rio Maracu até o Cemitério dos Anjos. O projeto compreende, além de pavimentação em bloquetes, sarjeta, meio-fio e iluminação pública.

*Jornalista | Escritor

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

YouTube Sotaque

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade