Por José Raimundo Campelo Franco*
Deixarei nestes dolorosos lamentos, algumas das percepções particulares que nosso nobre amigo “Benitinho” nos deixou nesta inesperada partida.
Sempre que o via, sentia uma ligeira sensação de estar de frente com um dos bons professores que tive na vida. Talvez por seu jeito autêntico de sempre demonstrar alguns destes atributos comuns nos mestres do saber, mas, sobretudo, porque compreendemos que os educadores de mentes brilhantes, semelhantemente, são aqueles que nos fornecem as melhores fórmulas e regras para uma vida feliz.
No entanto, vejo-me como uma fiel testemunha das inúmeras lições decantadas de suas livres espontaneidades que estampavam respeito, tolerância, empatia e serenidade. Aqueles que o acompanharam por décadas sabem que esses princípios nunca o deixaram durante sua vida, e, pelo contrário, sempre o mantiveram como um cidadão polido e educado. As suas energias positivas inundavam o local por onde passava, transmitindo sempre uma sensação de confiança e amizade.
Listo aqui alguns desses valores que tão bem nutriam estas visibilidades da personalidade de Benitinho:
Cordialidade: tinha a admirável dádiva de fazer com que aqueles que estavam ao seu redor se sentissem à vontade;
Saber escutar: de uma postura catedrática e bem marcante, que proporcionava sentimentos de acolhimento às pessoas;
Pensamento-ação: Suas idealizações eram acuradas, bem estruturadas e produziam resultados;
Cosmovisão impressionante: foco panorâmico riquíssimo, o colocava em uma posição cirúrgica de observar e sentir.
O estilo de vida contemporâneo naturalmente nos impulsiona a muitas plataformas de desafios, de novas experiências, de voos mais altos, que, de fato, promovem certas sensações de vitória ou felicidade. Contudo, impõe preços altos com frustrações que também contribuem para nascimentos de crises existenciais, que, simultaneamente, nos distanciam dos modos de vida mais simples, os quais se tornam irreversíveis para uma volta de tentar fazer um novo início.
Embora seja um valor que muitos almejam, a sabedoria não é puramente suficiente para gerir este estilo de vida imposto a nós, pois a vulnerabilidade humana diante dos reveses da vida, se intensifica gradativamente, seja com os abalos da aflição, do cansaço ou da dor.
Entretanto, aos amigos dos mais variados convívios, a agradável voz de Benito Filho se manterá em sintonias com os nossos ouvidos ao que lhe era mais peculiar, seja nas nossas rádios televisivas daqueles dias agitados, nas celebrações das “vianensidades” e pertencimentos mais tocantes, nos encontros de confraternizar, nas lanchas que cortam nossas águas, naquela batucada repentina de rememorações boêmias, e mais ainda, naquelas badaladas orquestras de sopro.
Talvez, de tão dolentes as nossas saudades, nem sabemos se conseguiremos cantar uma música qualquer “dos amigos ausentes” nas sequências grupais que soavam tão bem em seu entusiasmado timbre.
Que Deus lhe absorva das suas falhas na Terra e lhe receba em sua digna morada. Qualquer dia, amigo, voltaremos, a nos encontrar…
Homenagem às memórias de Benito Filho.
*Membro da Academia Vianense de Letras (AVL)
Lida por Tania Diniz, na missa de 7º dia, celebrada na Igreja Nossa Senhora Menina em Viana, em 13 de dezembro de 2024.
One Response
Um texto que expressa verdadeiramente o prestígio à Benitinho! Que Deus o receba em sua morada!