Por Bioque Mesito
O Brasil já viu de tudo, mas de tempos em tempos a história se repete com requintes de ironia. Houve um tempo em que um certo grupo “Deus, Pátria e Família” creditava que a democracia era frágil e que bastariam um soldado e um cabo para fechar a Suprema Corte. Esbanjando a arrogância típica de quem confunde bravata com estratégia, proclamaram essa sentença em meio a risos. O tempo, porém, é um senhor implacável e, anos depois, eis que o país se reúne para assistir ao julgamento do governante golpista. O destino, sempre sarcástico, organizara um espetáculo onde os desdenhadores de outrora são os réus do dia.
O grande salão de mármore lotado esperando a corja covarde. Os ministros da Suprema Corte, antes alvos de desprezo e ameaças, agora presidem solenemente a sessão. O julgamento transcorrerá com o peso de quem finalmente faz justiça contra aqueles que tentaram destruí-la. Do lado de fora, meia dúzia de gatos pingados segurando cartazes amassados, clamando por um salvador que já não tem exército, nem seguidores leais. Uma cena que lembra aquele domingo melancólico de 16 de março de 2025, na praia de Copacabana, quando esperavam uma multidão para prantear seu líder, mas só apareceram alguns devotos perdidos com suas camisas emprestadas da seleção brasileira de futebol, acompanhados de um pastor mentiroso que prometia milagres em nome de um mito que já não existia.
Até o soldado e o cabo da história sonhada haviam encontrado ocupações mais produtivas, como desfrutarem da praia com seus familiares.
Enquanto isso, nas celas frias do presídio, os tolos que acreditaram no falso profeta seguiam pagando a conta. Haviam invadido palácios, quebrado vidraças, gritado contra um inimigo imaginário, tudo em nome de um líder que sequer se deu ao trabalho de visitá-los. “Cadê o mito?”, perguntavam-se uns aos outros, enquanto os dias se arrastavam entre audiências e promessas vazias de liberdade. Haviam sido usados e descartados, mas ainda assim, alguns teimavam em chamar de injustiça aquilo que era apenas o preço da própria estupidez.
E como desgraça pouca é bobagem, veio a traição. O fiel escudeiro, aquele que levava e trazia os recados do governante golpista, resolveu falar. O tal Mauro Cid, que de leal não tinha nada, abriu a boca e despejou a verdade como quem se livra de um peso insuportável. Documentos, áudios, mensagens, tudo estava ali, entregue de bandeja aos juízes que um dia foram alvos de deboche. Os bolsonaristas, que juravam lealdade cega ao líder, assistiam incrédulos ao desmoronamento de seu castelo de areia. Afinal, o que esperavam de uma corte construída sobre fake-news?
Em casa, o ex-governante golpista suava. Observando pela Globo News a corte que um dia julgara irrelevante, destrinchando suas armações. Tentando ensaiar seu velho discurso de vitimismo, vai às redes sociais inventar, lastimar, chorar. Perdeu, mané! Até seus advogados já não demonstravam o mesmo entusiasmo de antes.
O filho, outrora falastrão, mantinha-se em silêncio passando vergonha na nova pátria que não pariu, provavelmente refletindo sobre a ironia da vida. O golpe que juravam dar nunca veio, mas a resposta da democracia sim. E veio com um peso que nem todas as bravatas do mundo poderiam evitar.
O julgamento seguindo, enquanto o Brasil assistia ao espetáculo da história cobrando sua fatura. Os jornais já especulavam as possíveis condenações, as redes sociais fervilhavam de memes e análises, e até os mercados, sempre pragmáticos, davam sinais de alívio. Afinal, estabilidade política é um ativo valioso, ainda mais quando os aventureiros do caos são colocados em seus devidos lugares.
O soldado e o cabo, caso estivessem assistindo, provavelmente brindariam à democracia, felizes por não terem sido arrastados para aquela enrascada.
Ao final das apresentações e contestações de ambos os lados, o veredicto foi proferido. O golpista covarde de alcunha maldita, que um dia se sentiu intocável, que acreditou poder dobrar instituições com bravatas, finalmente descobriu que a justiça, quando tarda, não falha. O país, que tantas vezes temeu pelo pior, pôde enfim respirar um pouco mais aliviado. E no fundo, entre risos e comentários, muitos repetiam: “E pensar que bastava um soldado e um cabo…”