Por Luiz Thadeu Nunes de Silva*
A vida é mágica, com sua sequência imutável. Nascemos, crescemos, e enquanto não morremos, vivemos. Segundo o budismo, “tudo é movimento e transformação”, me disse a querida Socorro Branco, do RJ.
Aprendi no outono da vida, com o passar dos anos, que tenho de buscar o essencial. Escolhi a suavidade ao exagero, o conforto ao supérfluo. Aprendi que as boas companhias não são muitas, mas necessárias para nos amparar, na precisão. A forma mais simples e profunda de conexão humana é ouvir. Apenas ouvir.
Talvez o presente mais valioso que podemos oferecer seja nossa atenção plena, genuína e amorosa.
Porque, às vezes, o silêncio — repleto de empatia — carrega mais poder para curar e unir do que qualquer palavra, por mais bem intencionada que seja.
Descobri que cuidar do corpo é um ato de carinho consigo mesmo, e que o movimento traz mais vida do que qualquer fuga passageira. Os excessos perdem a graça, e a simplicidade ganha espaço. Você passa a escolher melhor: as palavras, os encontros, os momentos. Valorizar o silêncio tanto quanto uma boa conversa, porque entende que nem toda resposta merece reação. O tempo ensina que pessoas são mais valiosas que coisas, e que conflitos roubam energia que pode ser usada para construir a paz. Enfim, você aprende a viver mais leve, a se respeitar mais; a priorizar aquilo que realmente importa: o amor, a tranquilidade e a alegria de ser quem é, no ritmo que a vida pede.
Aprende que o humor é libertador; ganha mais quem vê o lado lúdico das coisas; quem não se leva tão a sério.
“As palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor. Aprendemos palavras para melhorar os olhos. Há muitas pessoas de visão perfeita que nada veem… O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Quando a gente abre os olhos, abrem-se as janelas do corpo e o mundo aparece refletido dentro da gente. São as crianças que, sem falar, nos ensinam as razões para viver. Elas não têm saberes a transmitir. No entanto, elas sabem o essencial da vida. Quem não muda sua maneira adulta de ver e sentir e não se torna como criança, jamais será sábio”, escreveu Rubem Alves.
Aprendi também, quando se arruma por dentro, se arruma o mundo lá fora.
Tempos difíceis temos vivido, ou melhor, sobrevivido.
No sábado, 07 de dezembro, dia em que completei 66 anos, -ao cair da tarde, soube que um amigo não suportando seu inferno interno, deu fim à vida. Homem decente, de conversa mansa, bom convívio, no pouco tempo em convivemos, foi atencioso, gentil e generoso. Nossa mente é terra desconhecida. Todos nós vivemos infernos particulares, e a mente é a maior coisa do universo. Nela cabem o céu e o inferno, dividida por linha tênue.
Sair do céu para o inferno é muito fácil e rápido.
Portanto, quando o corpo pedir calma, escute. Quando o coração estiver apertado, permita-se desacelerar e viver o momento. Quando a mente estiver sobrecarregada, dê um tempo. Quando faltar ar, pare, respire fundo, e encontre seu eixo. Quando a alma pedir afeto, não hesite em buscar acolhimento. Afinal de contas somos seres humanos, com nossas imperfeições, medos, inseguranças. Somos carentes, necessitamos desse tear de existências que chamamos ternura.
Viver é dádiva, e vai muito além de cumprir prazos, alcançar metas e pagar boletos. Ninguém precisa correr atrás de coisas que custe sua paz. Se respeitar é a forma mais sábia de cultivar o amor próprio. A vida é nosso mais bem; viver bem é nossa maior riqueza.
*Engenheiro agrônomo e viajante do mundo – Portal Único
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Bela reflexão.